Notícias

Conclave sob pressão: livro com viés conservador circula entre cardeais antes da escolha do novo papa

today7 de maio de 2025 8

Fundo
share close

Cidade do Vaticano — Às vésperas do conclave que elegerá o sucessor do papa Francisco, 133 cardeais eleitores receberam um livro com perfis de possíveis candidatos ao papado, em uma publicação que levanta preocupações sobre tentativas de interferência externa no processo de escolha do novo pontífice.

O material, intitulado Relatório do Colégio dos Cardeais, apresenta cerca de 40 perfis de cardeais e suas posições sobre temas controversos como bênçãos a casais do mesmo sexo, ordenação de mulheres como diaconisas e contracepção — todos assuntos que marcaram o pontificado progressista de Francisco. O conteúdo, no entanto, sinaliza uma preferência clara por nomes mais alinhados ao pensamento conservador da Igreja.

O relatório foi elaborado por dois jornalistas católicos tradicionalistas: Edward Pentin, do Reino Unido, e Diane Montagna, dos Estados Unidos. Ambos têm passagens por veículos religiosos de perfil conservador, como a Crisis Magazine, que já publicou críticas contundentes ao papa Francisco. O livro foi distribuído em versão impressa e também está disponível gratuitamente online.

Embora os cardeais estejam isolados do mundo externo durante o conclave, a Igreja permite que eles tenham acesso a materiais escritos nos dias que o antecedem. A jornalista Montagna foi vista entregando o relatório pessoalmente a diversos cardeais durante as reuniões prévias ao conclave, segundo a agência Reuters.

Viés e preocupação canônica

Embora os autores afirmem que o objetivo do relatório é ajudar os cardeais a “se conhecerem melhor”, especialistas em direito canônico consideram a publicação tendenciosa. O cardeal maltês Mario Grech, por exemplo, é descrito como “polêmico”, enquanto o americano Raymond Burke — um dos mais ferrenhos críticos de Francisco — recebe elogios.

Para a canonista Dawn Eden Goldstein, de Washington, D.C., o material fere o espírito das normas estabelecidas por João Paulo II, que proibiu qualquer forma de interferência na eleição papal sob pena de excomunhão. A medida visa preservar a liberdade e a imparcialidade dos eleitores.

Kurt Martens, professor de direito canônico na Universidade Católica da América, considera a iniciativa semelhante ao polêmico Red Hat Report, que em 2018 buscava financiamento para investigar cardeais e impedir a eleição de outro papa com perfil reformista.

Redes de influência e financiamento

Além da Sophia Institute Press — editora responsável pelo livro e conhecida por seu viés conservador —, outras instituições tradicionalistas como a EWTN (maior rede de comunicação católica do mundo), o Napa Institute e a Papal Foundation têm sido apontadas como influenciadoras indiretas deste conclave.

Em uma declaração anônima ao jornal The Times, um membro da Papal Foundation disse: “Esta sala poderia arrecadar um bilhão para ajudar a Igreja, contanto que tenhamos o papa certo”.

Vários nomes ligados a essas entidades também demonstraram apoio ao ex-presidente dos EUA Donald Trump e ao arcebispo Carlo Maria Viganò, excomungado em 2023 por cisma após publicar um dossiê pedindo a renúncia de Francisco.

Cardeais reagem

Apesar da tentativa de influência, nem todos os cardeais demonstraram interesse pelo relatório. O cardeal Oswald Gracias, da Índia, afirmou à CNN que recebeu o livro, mas não o leu. “É um volume bem produzido, mas espero que seja preciso”, disse. Ele também alertou os colegas sobre a propagação de notícias falsas nas redes sociais.

O conclave de 2025 será formado por cardeais de 71 países — muitos nomeados pelo próprio papa Francisco. Trata-se de um colégio eleitoral mais diverso do que em ocasiões anteriores, o que poderá influenciar decisivamente na escolha do novo líder da Igreja Católica.

FONTE; CNN BRASIL

Escrito por Rádio Terra

Rate it

Comentários da publicação (0)

Deixe uma resposta

O seu email não vai ser publicado. Os campos obrigatórios estão marcados com *


0%