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Endividamento volta a crescer e compromete 27% da renda das famílias, maior nível desde início do Desenrola

today19 de maio de 2025 6

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O endividamento das famílias brasileiras voltou a subir e alcançou, em fevereiro deste ano, o maior patamar desde julho de 2023, mês de lançamento do programa Desenrola Brasil. De acordo com dados do Banco Central, 27,2% da renda das famílias foi destinada ao pagamento de dívidas – percentual semelhante aos 27,3% registrados no início do programa, criado pelo governo federal para facilitar a renegociação de débitos.

A alta no comprometimento da renda começou a se acentuar a partir de dezembro de 2024, impulsionada por dois fatores principais: o aumento da concessão de crédito no segundo semestre do ano passado e a elevação da taxa básica de juros (Selic), que saltou de 10,5% para 14,75% ao ano em apenas 12 meses – o maior índice em quase 20 anos.

Segundo economistas, esse aperto monetário tornou o crédito mais caro e restrito. Com isso, muitas famílias em dificuldades acabam recorrendo a linhas de financiamento com juros elevados, como cheque especial, crédito rotativo do cartão e empréstimos pessoais. Essa dinâmica tem ampliado o peso das dívidas no orçamento doméstico.

Inflação segue pressionando os lares

Além dos juros altos, a inflação também tem agravado o quadro. Embora tenha apresentado desaceleração em abril, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) acumulou alta de 5,53% nos últimos 12 meses, acima do teto da meta de inflação estipulada pelo Banco Central, que é de 4,5%.

Os principais vilões continuam sendo alimentos e serviços essenciais, como transporte – itens que afetam diretamente o cotidiano das famílias de menor renda. O resultado é uma espiral perigosa: com parte significativa do orçamento comprometida com dívidas e despesas básicas, cresce a necessidade de contrair novos empréstimos, aprofundando ainda mais o endividamento.

A rotina apertada de quem vive no limite

A realidade da aposentada Maria Regina Cordeiro, de 72 anos, ilustra bem esse cenário. Viúva e moradora de São João de Meriti, na Baixada Fluminense, ela vive com a filha, que trabalha como autônoma e não tem renda fixa. A responsabilidade pelas despesas da casa recai inteiramente sobre os rendimentos de Maria Regina: uma aposentadoria e uma pensão que, juntas, somam pouco mais de R$ 3 mil.

— Está tudo caro demais. Gás, água, alimentação… Tento me organizar, mas nem sempre consigo — lamenta.

Para complementar a renda, ela mantém um pequeno comércio no bairro. Ainda assim, quase toda a renda fixa está comprometida com dívidas e contas mensais: R$ 2.800, segundo ela.

— Meus dois salários mínimos vão praticamente todos para pagar dívida — desabafa, apontando também a alta no preço do café na padaria como reflexo da perda do poder de compra.

Perspectiva é de mais pressão

Com a economia em desaceleração, juros altos e inflação persistente, o alívio para o bolso do brasileiro parece distante. Para os especialistas, o cenário só deve melhorar com a retomada do crescimento econômico e a redução sustentável das taxas de juros – o que, por ora, ainda não está no horizonte.

Escrito por Rádio Terra

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